O noticiário dos últimos dias trouxe ao conhecimento geral a tragédia vivida por um colaborador de um conhecido aplicativo de entregas. Os fatos, tristes por si só, foram ampliados pela informação de que a empresa, durante uma tentativa de socorro por parte de pessoas que passavam pelo local, teria simplesmente se preocupado com o cancelamento das entregas pendentes na agenda do colaborador, que veio a falecer, tudo indica, vítima de um AVC.
Não pretendo aqui tecer qualquer juízo objetivo a respeito de fatos que não conheço em detalhes. Contudo, desse triste acontecimento se pode extrair algumas lições a respeito da importância de se estabelecer uma cultura de compliance.
Temos observado que no Brasil, embora o interesse crescente pelo tema seja inegável, ainda prevalece uma visão restrita do compliance como ferramenta de adequação à legislação ou, de forma um tanto distorcida, relacionada à investigação de fraudes corporativas. Ambos vieses são, sem dúvida, em alguma extensão, parte de uma estrutura de compliance, mas é chegada a hora de entender o termo em sentido mais amplo, como um mecanismo necessário à implantação de uma cultura consciente de cuidado.
Empresas como o aplicativo de entregas em questão são os grandes expoentes do novo capitalismo. Fundadas em um ambiente totalmente digital, tem como premissa a otimização do tempo e a facilitação da vida dos usuários. São disruptivas em seus modelos, geram empregos, atraem importantes investimentos e movimentam a economia.
Contudo, nos dias de hoje, não basta ser simplesmente moderno em termos de modelos de negócio. É fundamental transcender a busca pelo resultado e a esta se deve acrescentar um propósito real, acompanhado pela aplicação de uma cultura de cuidado. Mas, cuidado com quem? Com os chamados stakeholders, termo geralmente traduzido como ‘partes interessadas’. Trazendo a discussão para um campo mais concreto, os stakeholders são, basicamente: os (i) funcionários/colaboradores, (ii) clientes, (iii) fornecedores, (iv) investidores e, não menos importante, (v) a sociedade/comunidade e (vi) o meio ambiente.
No mundo atual todos esses atores devem estar representados e integrados em igual medida, e o cuidado para com seus interesses deve ser tão importante quanto os resultados e lucros para as empresas.
O caso em questão nos trás, pois, algumas lições nesse sentido.
A primeira, e mais clara delas, é que um bom programa de prevenção, efetivamente implementado e divulgado, é um instrumento bastante eficiente para evitar resultados como o ocorrido.
Não resta dúvida, porém, que mesmo com medidas preventivas, nenhum negócio está imune a acontecimentos indesejados e trágicos. Estes, por seu turno, podem ser potencializados quando não há a devida preparação para o enfrentamento de uma situação de crise. Os danos são muitos e em diversas esferas, mas a reversão a danos de imagem é muito mais custosa e penosa. Portanto, saber como agir em momentos de crise também faz parte da cultura de compliance.
Uma terceira e última lição, e que a princípio foi colocada em prática no caso concreto, é que toda falha de compliance representa uma oportunidade de compliance, tanto para os envolvidos como para todo o mercado. Parafraseando Nizan Guanaes, sempre aprendemos com os erros, mas aprender com os erros dos outros é menos dolorido e menos custoso.
Infelizmente, essa tragédia, como tantas outras, nos mostra o quanto temos a crescer em termos de maturidade cultural de compliance. Sejamos, contudo, otimistas, pois o momento é propício e pede um olhar diferente para o compliance como cultura, em que o foco principal sejam as pessoas.
Compliance e as lições de uma tragédia – Dr. Leonardo Alonso
O noticiário dos últimos dias trouxe ao conhecimento geral a tragédia vivida por um colaborador de um conhecido aplicativo de entregas. Os fatos, tristes por si só, foram ampliados pela informação de que a empresa, durante uma tentativa de socorro por parte de pessoas que passavam pelo local, teria simplesmente se preocupado com o cancelamento das entregas pendentes na agenda do colaborador, que veio a falecer, tudo indica, vítima de um AVC.
Não pretendo aqui tecer qualquer juízo objetivo a respeito de fatos que não conheço em detalhes. Contudo, desse triste acontecimento se pode extrair algumas lições a respeito da importância de se estabelecer uma cultura de compliance.
Temos observado que no Brasil, embora o interesse crescente pelo tema seja inegável, ainda prevalece uma visão restrita do compliance como ferramenta de adequação à legislação ou, de forma um tanto distorcida, relacionada à investigação de fraudes corporativas. Ambos vieses são, sem dúvida, em alguma extensão, parte de uma estrutura de compliance, mas é chegada a hora de entender o termo em sentido mais amplo, como um mecanismo necessário à implantação de uma cultura consciente de cuidado.
Empresas como o aplicativo de entregas em questão são os grandes expoentes do novo capitalismo. Fundadas em um ambiente totalmente digital, tem como premissa a otimização do tempo e a facilitação da vida dos usuários. São disruptivas em seus modelos, geram empregos, atraem importantes investimentos e movimentam a economia.
Contudo, nos dias de hoje, não basta ser simplesmente moderno em termos de modelos de negócio. É fundamental transcender a busca pelo resultado e a esta se deve acrescentar um propósito real, acompanhado pela aplicação de uma cultura de cuidado. Mas, cuidado com quem? Com os chamados stakeholders, termo geralmente traduzido como ‘partes interessadas’. Trazendo a discussão para um campo mais concreto, os stakeholders são, basicamente: os (i) funcionários/colaboradores, (ii) clientes, (iii) fornecedores, (iv) investidores e, não menos importante, (v) a sociedade/comunidade e (vi) o meio ambiente.
No mundo atual todos esses atores devem estar representados e integrados em igual medida, e o cuidado para com seus interesses deve ser tão importante quanto os resultados e lucros para as empresas.
O caso em questão nos trás, pois, algumas lições nesse sentido.
A primeira, e mais clara delas, é que um bom programa de prevenção, efetivamente implementado e divulgado, é um instrumento bastante eficiente para evitar resultados como o ocorrido.
Não resta dúvida, porém, que mesmo com medidas preventivas, nenhum negócio está imune a acontecimentos indesejados e trágicos. Estes, por seu turno, podem ser potencializados quando não há a devida preparação para o enfrentamento de uma situação de crise. Os danos são muitos e em diversas esferas, mas a reversão a danos de imagem é muito mais custosa e penosa. Portanto, saber como agir em momentos de crise também faz parte da cultura de compliance.
Uma terceira e última lição, e que a princípio foi colocada em prática no caso concreto, é que toda falha de compliance representa uma oportunidade de compliance, tanto para os envolvidos como para todo o mercado. Parafraseando Nizan Guanaes, sempre aprendemos com os erros, mas aprender com os erros dos outros é menos dolorido e menos custoso.
Infelizmente, essa tragédia, como tantas outras, nos mostra o quanto temos a crescer em termos de maturidade cultural de compliance. Sejamos, contudo, otimistas, pois o momento é propício e pede um olhar diferente para o compliance como cultura, em que o foco principal sejam as pessoas.
Compliance e as lições de uma tragédia – Dr. Leonardo Alonso
18 de julho de 2022